terça-feira, 27 de julho de 2010

Florbelismo Kafkaniano...

Ah, meu amor, remeto-te de longe o beijo que me cala inteiramente por dentro.
Pretendo livrar-me do sabor amargo do Anseio que não me deixa...
Desejo despir-me plenamente da tua lembrança, que assombra minhas noites de sono,
e rouba a calmaria dos sonhos tranquilos.

Um beijo, amor, sinta-o no vento.
Deguste-o com o prazer com que tomarias vinhos caros, se os tivesse ao alcance, e em taças bonitas.
Devore-o, com a mesma intensidade de quando a fome apetece o estômago de manjares.

"E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!"

Remeto-te amor, os versos insanos da saudade.
Os que como adagas maceram o peito, esmigalhando as certezas e vontades,
e me mantém cativa de um sentimento cruel.
Adoraria desvencilhar-me da dor malcurada que me preenche desta nostalgia  ingrata.

Um verso, amor, ouça-o no vento.
Ausculte-o com a curiosidade com que saltarias do abismo, para exibir as asas ao desconhecido, e voar!
Aceite-o, com a mesma benevolência apresentada por um soldado condecorado.

"Posso ouvir o Vento passar,
assistir a onda bater,
mas o estrago que faz, a vida é curta pra ver..."

E a vida, percorre os segundos, se valendo deles, como garantias de eternidade.
Mas sei, sei, que o tempo passa para a matéria que se desintegra,
a cada instante de desespero.

Sobra muito medo, que corrói os neurônios, com a mesma velocidade inoportuna
com que as ondas atingem a areia.
No vaivém sem fim dos átomos, e da energia infinda do universo,
minhas idéias se desfazem, e se reconstróem...

Meus sentidos, informes, não fazem falta,
tanto quanto os versos que te dediquei um dia.
Nem o beijo que te dedico, como mortalha de um sentimento morto.

Um beijo, amor,
Um beijo, e um verso...

"Os beijos por escrito não chegam a seu destino. 
Bebem-nos pelo caminho os fantasmas."

 
 
 
 Citações: Florbela Espanca, Los Hermanos, Franz Kafka, respectivamente. 
Crédito da imagem : Getty Images


segunda-feira, 19 de julho de 2010

Miedo

Às vezes, o medo remoto como o que emergia das crenças ingênuas, vem assombrar um presente vacilante com suas sombras amedrontadoras. O ser, que encoberto até o rosto tentava não olhar, apercebe-se instigado, o coração acelerado temendo os mostros imaginários que adormeceram embaixo da cama.
Mas não em pouco tempo, vê-se rodeado por silêncio, mudo, esparso, imerso numa escuridão confortável, das que embalam os sonhos. Os obstáculos é que criam vida. Emergem do espelho como expressões ensaiadas, tantas vezes desfiladas pelas ruas como máscaras.
O desconforto é visível. Pudera, o coração marcado profundamente, convalesce, e funciona com as dores projetadas em carne-viva. Dilacerada, a poética recompõe-se aos poucos emitindo versos fracos, elevados com uma brandura quase infantil.
Mas é medo que invade. Que vem com sons de pedra, afundando perigosamente, levando junto uma consciência desvalida. O peito, como carapaça afiada, se protege como pode, já que de dentro,  o coração é quem sofre as dores lacinantes das perfurações à pouco ocorridas.
Só, que o tempo não é tão previsível como as ilusões de relógio. Não escorre milimetricamente como cantam os ponteiros, no seu tic-tac infindo. Parece eterno, e inversamente proporcional a qualquer tipo, mesmo que inconsciente, de vontade.
E nos faz perder nas histórias que se contam, e nas situações que nos encalçam, passo a passo. E o coração,ainda dolorido, sonha as cicatrizes das chagas ainda abertas. Sente-se embalsamado, por qualquer melodia que venha acalentar o desespero, e permanece irrequieto, na vontade de sentir.
Teimosia errante, vontade inconseqüente de sentir, mais uma vez, a intensidade prolongada do poema que nasce rapidamente. Emerge dos escombros do que assemelhava-se a castelo. Mas como árvore franzina, plântula enraizada, emitindo folhas verdes, dotadas de cheiro de alento.
Não adianta, reforçar as defesas, bloquear-se com desvios. Torna-se insuportável a ânsia convulsa de arrebentar as correntes, desfrear a língua, e emitir-se como vento. Pintar de leve as paredes, encher-se de claridade colorida, abrir os olhos mesmo que por um instante, esquecer-se que os monstros não existem fora das pupilas.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Das verdades que o corpo esconde


É mais um daqueles dias que transcorrem vazios. Com a calma dos dias sem direção.
Escorre lentamente pela janela apressada do ônibus, refletindo-se nas caras cansadas dos seres estáticos que pedem ponto.
Mais um daqueles dias, em que os medos súbitos amarrotam a consciência. Quando a música dos fones adentram o cérebro, fazendo calar qualquer pensamento, e ainda, amortecendo os sons da rua, que zumbem sem sentido.
A morte, parece esperar na esquina qualquer deslize que venha custar um pouco de sangue. E a vida, pulsa nos pulsos saudáveis, com a melancolia desnecessária dos moribundos de alma.
E sem as esperanças válidas, só resta o caminho de casa. As mesmas quatro paredes insuportavelmente brancas, perfeitas para o desenrolar das lembranças que atormentam como espectros fantasmagóricos.
O silêncio, a calma que desespera, o medo solitário e quieto.
É mais um daqueles dias que transcorrem vazios. Vejo a tela refletir uma parte de mim, que o espelho esconde. Não só o espelho, mas todo o corpo com sua linguagem descabida, os olhos, os lábios... Não sei até onde o medo emite braços, como os de um polvo, agarrando toda a realidade com a mágica mecânica clássica, não soltando mais os fatos que repousam em suas mãos enrigecidas.
O que sobra, de fato exposto, anoitece junto com o dia que se esvai.
Repousa sob a lua, o sol do dia, e sob as pálpebras cansadas, os sonhos tristes como sempre...




PS:
[A felicidade, aporta, como barco sem tempo, que só abastece, e se vai em busca do mar]
[Ancorado no porto, é só vislumbre, pois foi feito para o mar bravio e suas ondas.]
[Eu, como porto de precipício, ofereço estadia, apenas...]
[Permanência, só para os que são mar profundo.]

terça-feira, 6 de julho de 2010

Triste.

E daí que meus versos são tristes?
Nascem das profundezas obscuras do meu eu escondido. Descamam das dores insuportáveis que acometem o peito.
São pedaços das doenças interiores, produtos da tristeza,
oriundos da solidão.
Já que cá, eu, sou um todo de melancolia andante,
sublimando a cada dia,
segurando as lágrimas que me rondam.
E daí que eu seja triste?
Não tenho motivos de canto, nem alegrias que perpassem o peito,
e saltem para fora.
Sou mais riso costurado em máscara pintada.
Escuridão tão profunda que não consigo enxergar o que faz parte de mim.
E levo a vida, com o peso da dor, ateado às costas.
Talvez, o anseio pela morte não seja justificável.
E daí que eu seja triste?

domingo, 4 de julho de 2010

Bananas, tomate, chocolate, Vinho e Você

à L.C.

É você quem me faz sorrir, quando eu busco uma centelha de esperança,
ou alguma graça que valha,
na vida,
a pena que gasto com tantos poemas.
É em você que me perco,
dividindo todos os dias o abraço que me segura,
quando as pernas querem bambear,
desmoronando com vida e tudo até o chão.
Sorrio teu riso com gosto,
porque tem gosto de canção, e me preenche por completo,
inteiramente por dentro,
sem deixar espaços para as lamentações cotidianas.
E gosto,
porque não preciso munir-me de máscaras, ou enjaular-me numa capa obscura de hipocrisias.
Deixo meus olhos à mostra, verbalizando a cada segundo, como língua descontrolada, vertendo todos os segredos de dentro, e que te dôo, sem medos.
Liberto-me, e canto, e deixo exalar a poesia tão cotidiana que tanto anseio: a que vivo, sem receios, a que me faz sentir empiricamente cada palavra não dita.
Canto teu canto de encanto doce.
Ouço tuas sílabas incorporando-as ...
Desenhando-as na minha mente, uma a uma, como tatuagens dos dias que transcorrem apressadamente.
Amizade para sempre,
amor que não se acaba(rá) nunca!
PS: Obrigada pela Serotonina.