Diga-me, que é tudo mentira! Que este mundo que enxergo é apenas o vislumbre de um sonho! Por favor, atestem-me, provem-me, mostrem-me algum fato, para que nele eu me prenda, e, razoavelmente, acredite!
Talvez, eu seja outra, e, noutro plano, noutro mundo, noutra realidade, seja diferente deste agora que me atormenta!
Deus, misericórdia? Fale-me, grite-me, escreva com letras grandes na parede para que eu entenda, que este mundo não existe, que é uma ilusão criada pela minha mente idiota!
Mas você, acorde-me, belisque-me, se possível, sacuda-me, mas desperte-me deste sonho tolo, deste pesadelo interminável que me atormenta o juízo, e definha minha razão, quase submetendo-me à loucura!
Não quero mais, não quero este devaneio... Não quero estes dias compridos, não quero esta falta de defesa... Não quero esta tristeza enraizada, que não me deixa NUNCA!
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Citações:
Sombra de névoa tenue e esvaecida,
E que destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste:
"Parce Sexta-Feira de paixão.
Sempre a cismar, cismar de olhos no chão,
Sempre a pensar na dor que não existe...
O que é que tem?! Tão nova e sempre triste!
Faça por estar contente! Pois então?!..."
(Trechos dos poemas "Eu" e "Impossível", da Florbela Espanca.)