quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cinza

Em busca de um mundo em que caibam todos os meus complexos, aliados às teorias subjascentes à epiderme colada ao crânio. Se houvesse, seria sem proporções, e avaliado como um espaço ilimitado, e não fechado, nutrindo-se de toda forma de entropia, desestabilizando o equilíbrio dinâmico das partículas.
E se coubesse, a mim e ao meu coração, num mesmo ponto de um multiverso poético, literariamente construído para expor na superfície, as vertentes do pensamento organísmico 'tolo', seria mais fácil abrir os olhos à áspera realidade.
Permaneço, pois, na tendência metafísica, de encontrar uma clássica mecânica que preencha os dias. Mecanicisticamente definida, por idéias alheias, mas em essência, desconhecida.
Um mistério denso, como as nuvens em tendência de chuva, cinza, preponderante em inquietações caóticas, como a vida.


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PS:

1-Cinza, como a definição do amigo FRGB.
2-Perdão aos que comentaram o post anterior,e ainda não respondi...é a falta de tempo...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Inutilidade

"Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco."
(Carlos Drummond de Andrade)


  Começando do entorno sem precedentes, como quem parte do nada, para o interior do sistema fechado. O coração, bomba de quatro paredes, já sem sangue, parece menos desprezível, do que o era, sofrendo palpitaçães bestas.
  Já era o mundo, com suas cores claras, e os corações desenhados a tinta de caneta rosa, nos cadernos de folhas com molduras de florzinhas. Os poemas em cantos de páginas, já não são elegias aos rapazes bonitos, de sorrisos encantadores.
  Na verdade, nem um verso seco se molda de romance. O amor mostrou-se inútil, como estratégia evolutiva para diversificação genética, e propagação efetiva de genes. A mesma maquinaria cega, que também leva adiante as instruções nos outros 'inconscientes', ou 'não-humanos', perde-se conscientemente e completamente.
  Agora então, energia condensada, matéria em forma de vida, descompassada, repleta de uma sombra junguiana macabra. Vazio do que seria o romantismo bobo, e sobrando uns versos reumáticos insosos, apregoando as dores, como escravos os pregões de cocadas.
  Sem as feridas, metaforicamente desenhadas na carne-viva, a dor não consegue dilacerar os tecidos saudáveis.
  E o amor, que seja inteiro, ou forte, não desvia-se de si, para uma escolha ou opção. É indissociável da vontade, mas obedece apenas a si, e pronto. Vontade que testifique os erros.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ß-endorfina

  Não sobra muito espaço na lembrança. O córtex cerebral se enche, de uma forma estupidamente misteriosa, de sinais nervosos que marcam os acontecimentos. Neurônios não se dividem por mitose, tão facilmente, e o espaço físico do cérebro permanece inalterado desde a evolução em Homo sapiens. Então, cada dia, um pedaço do que era fato, se desfragmenta, sobrando muito espaço para as coisas corriqueiras que permeiam os dias. Nem se passou tanto tempo, mas a nostalgia não dói mais, como antes.
  Hoje, a distância não é um obstáculo. Ela se tornou muito mais algo abstrato, de conceituação expressamente poética, sem comprovações dignas de teorização. Não é o fato que me tirava o sono, nem o objeto do meu pensamento constante.
  Agora, que o destino me provou não ser muito mais que um nome na placa de um ônibus, tenho certeza que posso me valer das distâncias. Posso sê-las, ao passo que me desloco num espaço físico real. Num dado momento, a uma velocidade desconhecida, posso ultrapassar as vontades dos futuros, e escolher pra onde ir.
  Isso, enquanto sou o que teoriza.
  Na realidade, vejo-me presa ao passado que escorre, cada dia mais vacilante. E em mim, a matéria bruta, que se rimava amor, permanece, como algo disforme, ainda ocupando um espaço imenso (no peito).
  Nada mais é, como deveria ser, já que o pleno espaço continua obstruido. Sem passagem, ou local de porto, o que aparece, se esvai, assim repentino como veio. Nenhum novo amor, encontra estadia prolongada.
  Não sobra muito espaço na lembrança, nem no peito. Sobra é espaço na consciência vaga, para o cotidiano mole, mas, estrategicamente, as lembranças se amontoam na parte da mente menos usada. Não são resgatadas, senão a muito custo, mas quem quer gastar energia?
  Desfragmentado, o passado não passa de restos de neurotransmissores descartados, estáticos nalgum canto inacessível. E eu, passo mais tempo a imaginar o paradeiro das sensações, que foram lançadas nesse universo, junto a diversas rimas frágeis. Estão perdidas, como em mim, o sentimento que passou.
  Estou repleta dos dias.