quinta-feira, 10 de abril de 2014



“[...] Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente! [...]” (Florbela Espanca)

O que é o amor, para que seja sentido? Sabeis vós? Sabeis dos sintomas febris e agressivos, que indicam essa inebriante doença, quase mortal. Já não mais saudáveis serão os músculos cardíacos ou as válvulas, veias e artérias em seu confortável serviço. Já não serão os mesmos os passos, ou os poemas lidos, ou as canções escutadas, ou as noites bem dormidas. Já não será mesmo o eu, posto que, infectado, um outro "Eu" há de eleger como seu próprio. E para que servirá o ar, ou o alimento, imediatamente fracassados em suas respectivas tarefas de ventilar e alimentar? Mas só disso sabeis. Da essência, disso se nutre o amor. E quando nada mais reste que o alimente, fica o corpo inerme, vazio de si e do outro. Repleto de congestionantes memórias dolorosas. Não, o amor não é Pasárgada. O outro não é sólido terreno para que nele se edifiquem esperanças. O outro é efêmero, o outro é o outro, o outro não é tangível. Enganados sois vós. Vós que acreditais no que não existe. Crente esperança vã na de felicidade eterna amorosa. Nesse mundo, a única certeza é a morte, legado intransponível delegado a todos ao nascerem. O que é a alegria, senão um ligeiro momento entre uma desgraça e outra? O que é o amor, senão um febril estado de espírito? Uma doença da alma, capaz de provocar os piores sofrimentos? Não, inocentes crianças, o amor não apetece, não nutre, não enche, não edifica. O amor vos remove de si, vos perde, vos cega, vos amortece... E após o gozo, o vazio. E nunca mais sereis os mesmos.