quarta-feira, 31 de março de 2010

Cor


Tua cor, como plano de fundo para minhas palavras pálidas.
Contraste.
Negro, da cor da noite estrelada!
Eu, sem brilho, esbranquiçada,
feito seda colada em tuas retinas.
Teu sorriso, resplandecente, plano de fundo para meus beijos mudos.
Completude.
Transparente , como o diamante polido!
E eu, imensamante profunda, escura,
feito precipício a absorver todas as delícias da tua boca.
Ps: o texto, é de algumas semanas atrás, rabisco do caderno de Ecologia. É a falta de tempo. =P

sexta-feira, 26 de março de 2010

Interior alheio...


Texto escrito em parceria com o Cau, do blog 'eu refletor'.

No inverno de uma alma que desejava a escuridão, o último ponto de um pensamento.
No ápice do que imaginava ser loucura que se estendia sobre os seus sentidos sem iluminação, em um todo de escuridão nefasta,
tomou a faca em sua mão e no espelho de sua lâmina, sua própria face sem vida.
Talvez mais frio que o metal afiado, mas não tão reluzente. Suas idéias profanas tornavam opacos seus vértices.
Não se via no horizonte mais como vida, mas como um pedaço putrefato de carne destinada aos abutres pseudo-racionais, ávidos por sangue.
Seu coração palpitava em desespero conformado com as dores de um passado relutante.
Não quer, não pode acordar. Os gritos infernais tiram suas forças gradativamente. Os demônios interiores que o acusam são mais fortes, são unânimes na premissa de que culpado se morre.
E morte honrada é a de quem não chora, não vacila, de quem não implora e expõe o pescoço ao carrasco que ostenta em seu peito o brasão do abutre maior.
Abaixo do sol apenas Ele. Seu bico corta ao meio os infiéis. Por isso, todos devem ter os joelhos amarrotados. Assim conseguirão a salvação dos astutos. Contudo não há salvação quando o julgamento antecede a vida e a pobre alma escura, profunda, destruída, cheia de sombras e demônios obscuros que acusam, medos que percorrem as veias como vermes; não têm escolhas a não ser render-se, erguer os braços e soltar os ideais no infinito.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Dúvida...

Dúvida é dor, quando sucumbe as esperanças, e atropela com vontade o amor próprio. Doído, sentir doer o peito, sem ter remédios que parem o processo de autofagia, ou desacelere as contrações, para que no mediastino repleto de farpas, um pouco da homeostase possa alinhar as certezas. Só, que não há tempo, quando se corre com o relógio em vantagem. Não há duvidas, quando o que está em risco, é mais valioso que a vida bombeada sem preocupações. De que vale o poema, se a verdade é agravante quase jurídica, se o peso da culpa se reflete nas rimas, causando desconforto no criador, que os vomita inteiros? Sad, but true... Não há escolhas, quando não há alternativas.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Pressa

Que vantagem tem quem acelera,
quem antes dos passos, faz honras de presença,
e se perde na vontade do futuro, e só?
Abre caminho beirando tempo,
mas se ilude apenas,
já que a marcação dos segundos não pára pra dormir.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Homeostase inversa

Eu queria somente respirar, sem os pesos tensionando as pleuras intactas. Respirar um ar novo, infectado de verdades, diferente do ar puro do interior das paredes da bolha.
Queria dominar as rédeas da língua,
e soltar aos quatro ventos, continuamente, as verdades interiores, vindas dos pulmões colapsados.
Depois do contato, a metabolização,
a oxidação confusa das células intersticiais dos pulmões, em contato com o oxigênio ácido da atmosfera natural.
Longe de filtros e Index, a realidade pura, se confunde com o desejo instintivo, e demanda trabalho ao cérebro pré-programado.
Vírus de desconfiguração instantânea, liberando portas de acesso, e livrando a razão da redoma do medo.
Cautelosamente, vasculhando as superfícies ásperas, com os pés descalços,
procurando suturas, junturas, pontos de contato,
mas só encontrando pontos de mutação.
E construindo casulo obscurecido, germinando idéias novas, com cabeça, tronco e membros, delimitando fronteiras infinitas, e desenhando horizontes distantes.
Sem objeções, o peito moendo as ocasionalidades, e substituindo a maquinaria enferma, por novas peças eficientes e intensificadoras.
Coração a mil por hora, pupilas dilatadas fagocitando todos os fótons iluminados, e desenhando no fundo da caixa preta, memórias que serão lidas futuramente, nalgum simpósio psicológico.
Nas veias, a adrenalina corre, feito areia em rio selvagem. Água turbulenta, de sangue plascentário, e imaculado. Retirando do âmago, as convulsas idéias, e entregando à mente, tradutora de imagens.
Longe do racional cérebro incansável, as mãos testemunham a formação dos versos doloridos. Descamados como as células do útero não-fértil.
Como sangue coagulado, nada agradável, as vontades são liberadas inconscientemente, mas não sem propósito.
Por fim, a homeostase inversa, é obtida, mas não sem dor.
Não há cirurgia que conserte uma mente aberta!


PS: desculpem-me o texto confuso. Sinto muito, mas foi o melhor que pude fazer. Não estou na melhor fase da minha vida, nem da minha poética. O tempo também anda escasso. É, momento de seca aqui no Poemas pelo Avesso. Aos amigos que acompanho os blogs e comento, desculpem-me o sumiço. Prometo comentar quando puder. Beijos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Escrita antropofágica


Gosto-cor-de-sangue,
da caneta afiada entre os dentes,
doce, na boca,
escorrendo como prece
sobre o peito em chamas.

terça-feira, 9 de março de 2010

Formação material da alma, e comportamento parental...

Mistura de dois, que parece mais uma aberração.
Cromossomos fatiados, divididos aleatoriamente num processo químico casual.
Alelos em locus certos, pareados especificamente, de acordo com as funções que desempenharão.
Possibilidades infindas, diagnosticadas por enzimas específicas.
E de lá, a um pulo: a fala, a compreensão, a escrita.
Em poucos anos, para nós tantos, podemos desenvolver uma máquina incrivelmente poderosa.
Objetivo: passar meia-alma adiante.
E, mesmo que do nada, um piano de cauda caia sobre nossa cabeça, ou um pedaço de gordura venha interromper uma coronária, asseguraremos um lar* a uma prole ainda mais egoísta.
Nossa meia alma, estará lá, não deixando-nos ir por inteiro.
E pobre maquinária indefesa, nem sabe que o que a espera, é tão perigoso. Talvez, as marcas da nossa personalidade se reflitam nos produtos aleatórios dos processos naturais.
Seria bom, se nossos pensamentos pudessem se emaranhar no das nossas crias, e fazê-las cópias melhoradas de nós.
Não serve somente doá-las o ADN, temos que moldar suas personalidades, esculpir seu querer, fazer delas um boneco de pano, totalmente maleável.Afinal de contas, eles são parte da nossa alma.
Enquanto isso, os filhotes das leoas, aprendem a caçar, já que dali a uns dias, terão de sobreviver á natureza, com a força física que lhes foi cedida.



*lar aqui se refere ao corpo, já que este é produto de um conjunto de instruções genéticas que obedecem ao padrão existente no ADN dos pais, passado aos filhos por hereditariedade.

OBS: desculpem-me a explicação meia-boca logo acima...Rsrsrs... Se não entenderem, é porque expliquei com minhas próprias palavras...

domingo, 7 de março de 2010

O Circo


Os olhos de menina, ressuscitados dos recônditos da alma,
rebrilhavam, e refletiam a fascinação das cores.
Sob a abóbada estrelada, azul celeste,
e tantas vezes colorida, feito aurora boreal de pano!
Ah, o circo, e sua mágica engraçada!
Tantas cores, tantas fantasias. A mente, nem lembrava que truques se constroem da ilusão dos tolos.
Mas não era tola, a garota grande, de olhos brilhando.
Nem lembrava que a morte, assolava o chão,
enquanto a bailarina sorridente se equilibrava num pano pendente.
A moça pintada, vestida de amarelo, quase podia tocar as estrelas pintadas com imperfeição no teto móvel...
Mas, num movimento belo, se jogava do alto, e quase tocava o chão.
Eram tantos artistas, arriscando muito,
em troca de simples risadas.
Talvez, também pelo dinheiro dos ingressos,
mas, no fundo, o palhaço entristece, se uma criança não sorri.
E ela, sorria, mesmo sem ser criança,
ou sendo, por um curto espaço de tempo,
trazendo de traz, o passado que viveu um dia.
Após tanta fascinação,
viu o picadeiro escurecer, e o palhaço se despedir sorrindo.
As pipocas, já haviam acabado,
e lá fora do mundo circular do palco,
a realidade era fria.
Início de março, bem a noitinha,
dali a pouco, seria amanhã.
Ao dormir, com as mãos juntinhas, feito travesseiro,
os sonhos chegaram pesados,
e a criança encarnada, sumia subitamente.
Ahhh, a magia do circo!
Crédito da imagem: Luciana Carina S. Laundos

sexta-feira, 5 de março de 2010

Novidades...

Olá pessoal...
Bem, duas coisas a dizer.
Primeiro: Dueto novo no blog "Entre elas, um Amado".
Quem quiser ver, é só clicar no nome do poema acima.
Segundo:
Na primeira semana de abril,
Eu e o Eric do blog História é o poder vamos lançar um novo blog.
O nome será: Em Dobro²
Espero que vocês gostem da proposta, e possam acompanhar os textos.Ficaremos felizes em recebê-los por lá!
Um abraço a todos.

terça-feira, 2 de março de 2010

E o novo sempre vem...

Ontem, foi um novo dia que não percebi.
Estava imersa em passado, quase obscurecido,
e sonhando o depois, que nunca chegou.
Se tivesse reparado, teria visto o céu que se abriu num sorriso de nuvens brancas: fumaça dos milhões de sonhos evaporados durante a noite.
Aí, não reclamaria da chuva, já que a tendência de arrepio, vem quando o beijo morno acalenta a pele fria de dia turvo!
O sol, meio escondido, ainda clareava uns espaços entre as árvores sem folhas, fazendo contornos abstratos no meu rosto,
lembrando as constelações claras que surgiriam à noite, se eu lembrasse de olhar.
Mas anoiteceu, e não vi. Se não tivesse reclamado tanto da dor de cabeça, ou do ônibus cheio para ir pra casa, poderia ter cantado uma canção imaginada instantaneamente,
mixando os ritmos que adoro, e falando de tudo que não faz sentido unilateral!
Mas eu nem vi, e me fechei num quarto de paredes espessas, selando meu desafio, com um fim de dia aguado e medíocre.
Talvez, se não tivesse empenhado-me em construir um verso musicalizado e nobre,
tivesse visto a face translúcida do poema que rondava minha mente, em forma de lembrança constante. Afasteio-de mim, e agora, temo seu espaço vazio, como reposição às queixas exageradas do inconsciente.
E Hoje, o novo dia de Ontem, a expectativa, agora desgastada, do novo sempre em iminência.
E sempre novo, o Amanhã desperta no dia de Hoje, fazendo das vontades, primers* para replicação duradoura de esperanças. Mesmo que o Ontem, estagnado em seu papel de imperfeição desande, e atraque, fazendo do Hoje, apostasia para o sonho, Amanhã será sempre o desejado instante de renovação.
* Primer é um conjunto de bases nitogenadas que orientam o início de uma replicação do DNA. O primer é fundamental para que uma nova cadeia se forme, já que a DNAsintase não tem a capacidade de iniciar a replicação do zero, e só começa a agir em presença de uma base antes pareada. (se alguém não entender é porque fui eu quem conceituou o termo...rsrsrs...mas tá certinho viu!!!). No caso da poesia, as vontades funcionam como um início fundamental para a construção da esperança.