domingo, 23 de janeiro de 2011

_Homo social_


As têmperas desgastadas, exibem uma clara cor sem ternura. Todo o rosto parece imerso numa expressão contínua de nojo. Totalmente sem marcas, sem rugas, os olhos fixam-se sempre à frente, sem espanto. Vivendo esporadicamente, como quem dormita, este humano (que somos todos nós) não espera. Adianta-se sempre, com os passos apressados a caçar segundos. Atravessa horizontes sem nem se dar conta do que fica para trás, ou do que é atropelado pelo caminho. Pudera então, ser nomeado cego!
  Repleto de escárnio,  despeja-o sobre os outros, sempre sucinto, sempre inerme. Envaidece-se, de seu rosto sob medida. A massa corrida aguada, moldada meio quadrada, com os vértices a escorrer no pescoço como suor. O lado, rente ao mistério que há por baixo, é desgastado pelos dias encarados de frente.
  E cada dia mais sem aspecto, o semblante morto, exibe a indiferença.
 Humanos de máscaras, perdidos, vagam através dos caminhos, cambaleantes. Encontram tantos outros desconhecidos também vestidos com as ditas máscaras engenhosas. Traçam rotas, designam paradigmas...
  Por fim, crêem com plena convicção, na veracidade da ilusão que criaram.
Até que ponto há uma verdade, de fato, por trás da máscara tão perfeitamente colocada?

domingo, 16 de janeiro de 2011

Compreensões sobre a reconstrução

Na casa das borboletas, mora uma vontade. Dessas absurdas, cheias de asas, e quase sem corpo. Colorida como a cor das florestas em flor.
Nasce da necessidade de ser. Ser algo mais que um mero espectro, programado pela natureza-mãe, para agir com o instinto. Talvez o instinto seja uma arma contra a natureza furiosa e perigosa, que impõe aos indivíduos um duelo invisível contra mundo que há fora.
Desenvolve-se como casulo, capa extrínseca, que recobre o metamorfoseante. O casulo demora uma eternidade, já que aprimora, perfeitamente, as qualidades do indivíduo. E este, apenas existe, enquanto o mundo exterior o declara falido. Ele embola-se num desespero inconsciente e cego, moldando uma aparência externa que o proteja de qualquer ambição alheia. Esconde-se.
Volta a um mundo "uterino", e conecta-se ao cosmos por um cordão umbilical imaginário.
Desfalece as pretensões de dor, e envolve-se num processo de RECONSTRUÇÃO.
Depois, um estalo praticamente inaudível, denuncia o parto que se estabelecerá. Durante um período relativamente longo de tempo, o indivíduo rasga a própria capa, para libertar o que ainda é um mistério até para si mesmo. Por muito tempo, permaneceu imerso em sua vontade, mas não tinha conhecimento da mudança que se apresentaria a si mesmo.
As asas esvaem-se como um vento colorido. Abrem-se para o mundo, como um arco-íris para a calmaria. Demora-se a reconhecer-se, como si mesmo. Mas, como presente, o céu.
O céu da terra, com todos os seus perigos, e feixes de luz. O aconchego das flores perfumadas, esperando apenas polinização.
A borboleta deixa de ser vontade, para ser agente de si mesmo. Sendo, conhece o mundo que a cerca, podendo observá-lo de uma ótica privilegiada: a do personagem dinâmico. O que se movimenta pelos caminhos, sem medo; o que destoa-se do resto, por ser belo; do que aventura-se, muitas vezes entregando a própria vida como garantia.
Mas, se vale a pena, ela não sabe. Anima-se com a idéia de viver, para ver (e ter, em algum momento, a resposta para os mistérios...)...

PS: o texto ficou muito filosófico, com um tom de auto-ajuda, mas, garanto que é muito mais que isso...


Créditos da imagem:
Quadro do artista Lucas Santana.
para conhecer mais do trabalho do artista, clique AQUI.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Machine Humans



Máquinas maníacas mostrando rumos,
E nós, manipulados por desesperos e propagandas,
Nos desenfreamos pelo caminho indicado, sem receios.
Sem questionamentos, categorizamos as coisas que vemos.
Enchemos as línguas com palavras sem sentido,
E os olhos com os conformismos baratos das convenções sociais imortais.
Dirigidos, manipulados,
Cada dia mais marginalizados da humanidade que nos nomeia, mentirosamente.
E com a hipocrisia a desenhar os sorrisos nas caras,
Levamos as ilusões adiante.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Os meus destinos, e os 'EUs


  A gente acaba indo embora, porque esperar o Destino é bobagem. A gente se perde no tempo: quando vê, é hora avançada no relógio, e ele não chega. Aí, olhamos pro alto, está escurecendo. O dia quase dizendo Adeus, vestido em tons de vermelho. A gente corre. Corre pra não ficar no escuro. Corre pra não perder mais nada do tempo que quase possuímos, mas em regra geral, não temos.
  Vamos embora com a sensação de: e se ele foi? Se minha impaciência impediu-me de encontrá-lo? Permanecemos na dúvida, enquanto vamos, e quase chegamos a sentir fisicamente a dor de nos culparmos pelo atraso do Destino. Queremos tocá-lo, apalpá-lo com vontade para sentir a Realidade.
  Somos tão tolos, pois, não sabemos até o instante que vivemos, que aquele que viverá o Destino esperado no instante em que o esperamos, é o outro que seremos dali à frente.
  E assim, prosseguimos sem saber, no final das contas, nada do que deveríamos, sempre perdendo tempo ao esperar o Destino, neste presente que não é a realidade do ansiado. Prosseguimos sem saber, pois sempre o mesmo que somos, é o que descobrirá à frente que o Destino só chega atrasado, e quando não é esperado
  Mas quando chega, somos tolos o suficiente para não notá-lo. Já estamos, novamente a espera do Destino futuro, que não seja este presente.
Esperaremos sempre, e nunca o veremos chegar.




"Irrecuperavelmente tolos,
passaremos os dias imaginando a chegada do Destino.
Até o dia, que um lampejo de sabedoria nos mostre,
que o falacioso Destino nos acompanhou a queima-roupa,
todo o tempo presente e eternamente,
mas, como resultado do outro que fomos antes.