terça-feira, 22 de junho de 2010

Pequeno Léxico de Incompreensões Pessoais I - Efemeridade


E não há nada que subsista ao tempo, ou que se prolongue um pouco mais
que o tempo de paciência do tempo.
Tudo se esvai,
mesmo que lentamente,
até o ponto de ter deixado vazia qualquer expectativa.
Mas não reclamo, não. Que meu corpo se finde antes que eu possa entender o significado de Eternidade.
Ou, que meu pensamento se vá com a juventude,
e reste apenas a comodidade da velhice.
Minha transitoriedade é dádiva, creio,
já que nem as rútilas estrelas perpassam o tempo infinitamente.
E o amor, este é mais efêmero ainda,
presenteado com a inconstância exacerbada.
Finito, como tudo o que existe,
parece deveras eficiente na fácil tarefa de encarecer existências,
e ainda tornar sublimes os fatos ásperos da realidade esculpida.
E lá, do seu plano abstrato de idéias ilusórias, se despede como quem foge.
O corpo morre, e ele fica,
infinito em ocorrência, volúvel em permanência.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Saudades III

Vento, som que ecoa pelo vazio. Vento frio, que amortece os tecidos.
Solidão aguada, como caverna escura úmida. Profusão de eternidade silenciosa e cega.
Eu, caverna imensa, e ventilada. Ouvindo ecoar o silêncio, e as músicas que se tecem na memória.
Limitada por quatro paredes brancas, mais nada. De todos os lados, vertem sobre mim, os cantos livres de aconchegos.De olhos fechados, as ilusões parecem criar corpo, e me tocar...
Na memória, reacendem-se as lembranças de um passado não tão remoto, mas que causa saudade.


"Arrumei minha mala, de volta pra casa. E não posso mensurar a ansiedade que tenho para chegar. Me aninhar no ventre de casa, no meu quarto aconchegante, com teto virado pro céu. E devanear, esconder na escrivaninha todos os meus versos contidos na ânsia de tentar ser. Lá onde o celular tira férias, e se desprende da bateria, e onde eu tiro férias do mundo daqui de fora.
Lá, onde o mundo chega até mim, apenas como ruídos, e as verdades se mascaram sob o som do ventilador de teto incessante. Lá, onde a nostalgia impera, longe dos lápis de olho borrados, e cabelos penteados. Lá onde o amor, ressoa em modinhas de violão, reticentes e impiedosas, amortecendo as tristezas, e a solidão. Lá, onde o silencio é matéria prima de criação, e o escuro da noite, se transforma em sonho. Nem sempre bons, e aconchegantes. Ás vezes as noites são vazias, e percorrem rapidamente as horas, tornando-se dia, mais cedo.
E, logo será hora, de proteger-me na redoma inventada, e programada para conter meu sopro de liberdade. Já tenho saudade das limitações de impacto, causada pelas paredes de cimento frio.
Lá, onde minhas vontades são pecados, e minhas atitudes deploráveis. Lá, onde os pesadelos tem pena de mim, e me deixam solitária às noites. Lá, onde as lembranças são companheiras da existência injustificada.
Saudades de casa, meu exílio particular."

Não é mensurável a Vontade inquietante de voltar.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ando tão à flor da pele, "Às vezes"...


Não sei por que cargas d'água, toda vez que tento iniciar um trecho, o tão fadado advérbio de TEMPO: "Às vezes" me acomete, preenchendo todo o espaço, como se Se bastasse por si mesmo.
Nessa hora, o relógio pára, os ponteiros descansam do trabalho eterno de personalizar os segundos que morrem: pequeno espaço de tempo.
O gosto de sangue, preenche o branco do documento, com um gosto amargo, fazendo incidir sobre mim, o vazio enfadonho da tela. O texto em branco me acomete,
e o meu tempo, preenche o espaço do documento em branco. Sangue, muito sangue das minhas horas, que escorre sem proveito, indo manchar o que seria poesia.
Depois, a depender do momento, um ponto, uma vírgula, reticências infindas vão modificar a precisão da expressão,
talvez fazendo ecoar em mim alguma certeza desmerecida,
ou aumentando a solidão do branco.
Nessa troca, sem retorno, me agiganto em solidão clara, apagando os versos doloridos,
que talvez fossem o indicativo de alguma vida que valesse a pena.
Marés, e marés de pensamentos que se escondem no cansaço,
ou no costume de ouvir músicas que me ditem o que sinto,
sem que eu precise processar as informações.
Às vezes, só às vezes, o "Às vezes" torna-se impreciso. Parece dizer mentiras sobre o tempo do meu relógio psicótico,
e minha eternidade ínfima, parece padecer no fracasso da vida que prossegue sem se deparar com a transicionalidade.
Parece que "Às vezes" engana o peito. Mascara o que se indicia como "Sempre", iludindo-me que sou fragmentos de tempos esparsos!
Mas sou fragmentos de mim, que se eternizam nos pontos de "Às vezes", quando as excessões podem ocorrer normalmente, como fases reais de qualquer coisa que seja paradigma estancado!

Não sei por quê faz todo o sentido escrever um texto com duas palavras e um ponto. Faz todo o sentido que preciso, "Às vezes".


"...Meu Desejo se confunde com a Vontade de não ser..."

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Verso sem tema...


Um verso, beira a vida transicional de poesia escrita.
Deseja desprender-se da eternidade do pensamento remetido ao acaso e para longe,
e desenhar-se, limitando-se a espaços em branco, e compreensões mínimas...
Fortalece-se na loucura que se forma, sob as asas da poética que necessita de vôo,
mas não encontra céu que a liberte da escuridão quase completa,
do ser trancado que escorre com o tempo.
Quase beirando a língua, mostra-se na eminência de escorregar,
preso como pêndulo ao fundo da garganta seca.
Posso sentir seu pulsar leve, como vida distinta de mim,
entoando desafios, e mostrando-me o medo reprimido que cristaliza as idéias,
e aprisiona a alma.
Sem asas, depende das mãos espalmadas que tateiam a realidade em busca de brechas. Daquelas que permitem traduções ambíguas, para que os segredos não se oponham aos padrões.
Mas, munido de vontade, e coragem, fortalece o grito, tirando-o do âmago da vida,
libertando qualquer forma de sentimento oprimido,
para que as cicatrizes do peito, se fechem sem dificuldades e rapidamente...
PS:
Não sei dizer, o que minha poética deseja. Talvez o medo do vício cotidiano da escrita libertina, tenha, de alguma forma, vetado as tentativas de renovação. Sei, que de alguma forma, o verso se forma, sem que minha consciência saiba de sua procedência,ou de que assunto se trata. Talvez, amadurecido, possa sem dificuldades, escorregar pela boca, e pingar no peito como veneno. E ainda, abrir as portas para a enxurrada de poemas presos, sem possibilidade alguma de burlar os medos, e vir à realidade áspera.
Desejo com toda a intensidade, que o verso se aposse da boca, e libere, num só suspiro, todas as coisas que me sufocam.