sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Desjuvenescência


Na falta de um futuro que me caiba por completo,
Intero os dias, vivendo um presente desgarrado da realidade que aspiro.
Permuto com o tempo, partes que me completariam,
fossem dalgum modo encaixáveis,
e lhe oferto O meu tempo, o que resta.
E cada dia mais velha,
a velha pessoa que sou, torna-se mais marcada e vivificada,
mesmo que um tanto mais morta a cada segundo.
Mas, não ligo para o tempo que me amola aos poucos,
nem para meus versos cada dia mais cruéis,
nem para os inescrupulosos sentimentos que já nem doem tanto no coração calejado dos tantos anos que não tenho.
Envelheço ao ponto que a juventude se aprimora. Vejo nos dias, os resquícios das nostalgias remoídas,
e as precoces cãs resultadas da teimosia de reviver os passados constantemente, e sofrer por antecipação.
E já nem choro, nem temo. Prometo as promessas ditadas pelas circunstâncias, e esqueço-as ao passo que não as cumpro. Vejo os caminhos, e não exito em fechar os olhos.
Agora, o que percebo, é que os horizontes não são apalpáveis: Sempre vou estar entre o ponto de partida, e um destino intermediário. Não chegarei ao fim, antes que o meu próprio venha.
Mesmo que não valha mais a pena, desejo que os versos fiquem. Corroídos como a bagagem esquecida, carcomidos pelas traças cotidianas. Sem rimas, ou prosa que animem os sonetos. Mas que fiquem, como a puidez dos olhos dos velhos. As pupilas quase apagadas brilhando com a luz da sabedoria adquirida.
Ah, como a juventude me cansa! Não preciso de força, mas de solidão.