segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Segredo para a 'felicidade'*:


Com o dedo, e munido apenas de vontade,
esburaque a parede, todos os dias de manhã, ao levantar.
Entregue-se ao ofício, até o momento em que o calor,
e a poeira, imperem na mente como alucinações.
Todos os dias, esburaque a parede com o dedo.
Parecerá árduo o trabalho, e ingrato: a parede é dura, e permanente, o dedo frágil e fraco.
Mas, aos poucos, as pequenas partículas do muro, se desfragmentam com o atrito,
e os primeiros sinais de solução surgem: um pequeno buraco, que logo cederá espaço para a passagem.
Acometido de tonturas, e delírio,
o trabalhador corajoso, mune-se de ímpeto e determinação.
Nessa hora, precipita-se buraco à fora,
e quase sem ar, percebe que o vácuo concedido, emana escuridão para todos os lados.


O segredo, é libertar-se.



PS:Cá dentro, da redoma secretada pelo superego acusador, o sonho parece ilusão da mente manipuladora. Há sonho, e há tédio, nos dias que se passam febris, e aterrorizantes. Fantasmas que se evocam das sombras, e dos cantos lembrados quase que por acaso, ou por instinto, Ruídos que lembram o farfalhar das crises passadas, e que rondam o presente de agouro e morte.
A parede, intransponível e imponente, parece a única saída, fechada. Mas, do grande perímetro cimentado de tristeza e proteção, um pequeno gesto, circular, de diâmetro ínfimo, aos poucos, e sem se importar com as horas que passam, desenha incansavelmente, uma saída.
Um buraco que possa ceder esperança de passagem. Um buraco do diâmetro exato da vontade de libertação.
Ao conseguir resultado, parece mais que aceitável, precipitar-se para fora de olhos abertos, absorvendo todos os mistérios desconhecidos até então.
Parece improvável, que ficar atormentado pelo silêncio e solidão da casca dura e imóvel seja a solução para os males. A verdade, é que há algo lá fora, incompreendido pelo inconsciente que o anseia.
Ao ver-se, levitado pelo desconhecido, é de praxe entregar-se ao medo de cair rapidamente, até o chão insondável e profundo. Mas, ao conhecedor da inércia, é dado o prazer de conhecer o outro lado. Não um além. Mas um além-do-muro, que nos era desconhecido.
Lá, a escuridão emana por todos os lados, ao inverso do mundo materialista que um dia, nos foi apresentado.
Se abrirmos a boca, todas as coisas nos absorverão, e seremos decretados parte do infinito cosmos, mergulhados na ocasionalidade de pertencer, fazer parte, ser o milionésimo átomo, elevado á potencia desconhecida, do último número a ser imaginado.
Aí, Não Ser, será uma boa resposta, para a questão mais velha e conhecida de todo ser humano. Pertencer.



*felicidade entre aspas simples, porque não creio nela como algo verdadeiro. Creio-a como um conceito disperso, alheio, e pouco eficiente, para um momento de contemplação e liberação de endorfina. Deveria chamar-se: ilusão do hipotálamo.