quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Conto Narrador-Personagem na terceira pessoa [5]
Por mais que tentasse falar, mantinha-se calada, enquanto fitava a parede vazia.
Esta era a sua única companhia ultimamente, e daí?
Não entendia a necessidade que vinha de dentro de dizer que não estava sozinha,
que tinha a si mesma como companhia, e não precisava da parede branca, só para desaforar.
No entanto, era verdade que toda a dialética muda da poética parede inerte a inebriava.
Era comum ver-se concentrada na expansão do vazio que a fitava, branco e infinito do plano da parede.
- Eu não estou sozinha, porque o teu vazio me absorve, e me enche de uma solidão branca consentida. Aí então, eu me vejo parada, sendo o que és, e a partir deste momento, passamos a existir como um algo único e infinito. Somos parte de um todo dinâmico, que quase não existe, porque se baseia em vazios. Deixamos de ser, e passamos a coexistir com a não existência. Tornamo-nos nada, e o que não existe, não é só!
A parede convenceu-se, e deixou de arrogá-la. Tornou-se mais silenciosa que antes, deixando a moça em companhia do próprio silêncio.
A partir daí, do desprezo que começou a receber da parede, tornou-se dolorosamente só!
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