domingo, 1 de agosto de 2010

Envelhescência


Da pele, brotam sulcos fundos, recheados com todas as angústias de uma vida.
(as angústias marcam mais...as felicidades são aprisionadas em retratos...)
A vida, cansada, suspira, por tão longos anos que se ajuntam.
E os anos, rebrilham nas pupilas amarrotadas, vertendo como brilho de estrelas raras, a sabedoria adquirida.
( a sabedoria, que segundo o Márquez, só vem quando não mais é necessária)
A sabedoria, faz-se inata, brota da garganta quase muda, enaltecendo a ser que agora é.
Ser agora, é algo tão comum, que nem se percebe a essência evaporando pelos poros, indo compor os ventos, e alimentar as chamas.
Aos poucos, os ventos levam tudo, e a alma pode se desprender da matéria envelhecida.
Já se vai a vida, como um pó soprado para longe, disperso. Já se vão os amores, e até mesmo as dores.
Os velhos temem apenas, o sono!


---X---X---X---X---

Não transpareço a idade que tenho,
e ainda assim, me resta dizer,
aos que me chamam de criança,
que deveria ter muito mais de anos, do que a minha idade.
Minha velhice, espanta a curiosidade.
Talvez, seja mais precoce do que imagino.
Minhas rugas enfraquecem as vistas, e me enchem de uma poesia quase unicamente de túnel.
Aos netos, que não verei, pois não existirão (ao menos agora, que meu presente caminha para o futuro, com perspectivas de solidão),
deixo o legado desse gene precoce,
de degenerado poeta descompassado.
É, só tenho estes olhos pelo avesso,
com que vejo a vida em tons de sépia, e pastéis: ótica pós-efeito, a ilusória.
Triste? Talvez.
Cansada das outras vidas que não tive, mas que vivi em sonho.
Eu acho.

---X---X---X---

Imagem: Getty images