segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ß-endorfina

  Não sobra muito espaço na lembrança. O córtex cerebral se enche, de uma forma estupidamente misteriosa, de sinais nervosos que marcam os acontecimentos. Neurônios não se dividem por mitose, tão facilmente, e o espaço físico do cérebro permanece inalterado desde a evolução em Homo sapiens. Então, cada dia, um pedaço do que era fato, se desfragmenta, sobrando muito espaço para as coisas corriqueiras que permeiam os dias. Nem se passou tanto tempo, mas a nostalgia não dói mais, como antes.
  Hoje, a distância não é um obstáculo. Ela se tornou muito mais algo abstrato, de conceituação expressamente poética, sem comprovações dignas de teorização. Não é o fato que me tirava o sono, nem o objeto do meu pensamento constante.
  Agora, que o destino me provou não ser muito mais que um nome na placa de um ônibus, tenho certeza que posso me valer das distâncias. Posso sê-las, ao passo que me desloco num espaço físico real. Num dado momento, a uma velocidade desconhecida, posso ultrapassar as vontades dos futuros, e escolher pra onde ir.
  Isso, enquanto sou o que teoriza.
  Na realidade, vejo-me presa ao passado que escorre, cada dia mais vacilante. E em mim, a matéria bruta, que se rimava amor, permanece, como algo disforme, ainda ocupando um espaço imenso (no peito).
  Nada mais é, como deveria ser, já que o pleno espaço continua obstruido. Sem passagem, ou local de porto, o que aparece, se esvai, assim repentino como veio. Nenhum novo amor, encontra estadia prolongada.
  Não sobra muito espaço na lembrança, nem no peito. Sobra é espaço na consciência vaga, para o cotidiano mole, mas, estrategicamente, as lembranças se amontoam na parte da mente menos usada. Não são resgatadas, senão a muito custo, mas quem quer gastar energia?
  Desfragmentado, o passado não passa de restos de neurotransmissores descartados, estáticos nalgum canto inacessível. E eu, passo mais tempo a imaginar o paradeiro das sensações, que foram lançadas nesse universo, junto a diversas rimas frágeis. Estão perdidas, como em mim, o sentimento que passou.
  Estou repleta dos dias.

3 comentários:

Jéssica Trabuco disse...

Quando a gente sente um monte de coisa... e agente não sabe exatamente o que é... fica como?
Palavras saem.. e por mais que mintamos, a saudade fica.

www.musicpoesiaeblablabla.blogspot.com
www.daquiloquenaofalam.blogspot.com

FRGB disse...

Oi Nine! Obrigado pela visita! ^^

continuamos aqui, nesta de traduzir devaneios em palavras!


mta paz e otimos textos pra ti!

FRGB (www.petalasdaurora.blogspot.com)

ERICK MOURA disse...

vai conseguir dar rumo ao futuro ou ficar presa no passado?
a pequena parte que lembra o passado é pequena mesmo, e so usada quando vontade propria?

te adoro sua menina. saudades.
bj

ERICK MOURA