quinta-feira, 2 de julho de 2009

Diálogo


Garoto: Você não pode passar a vida toda assim...

Garota: (fitando a praia) Tá vendo esta concha? Pois bem, se eu deixá-la cair no mar, ela vai imergir, até encontar o fundo... O mais legal, é que o rio vai trazer pequenas partículas de rochas que sofreram algum tipo de intempérie... Com o tempo, bem lentamente, a concha será soterrada, e haverá a diagênese... A concha, e todo o sedimento abaixo dela, vão sofrer influencias da pressão confinante, e se tornarão uma pedra... A concha intrudida na pedra de areia... Sabe, o que eu sinto é como esta concha na minha mão... Posso atirá-la o mais longe que puder no mar... Ela vai afundar, e vir a ser uma pedra...

Garoto: Eu não entendo...

Garota: Não precisa, eu já tomei minha decisão... Tem certas coisas, que não adianta insistir... A concha é frágil, e rapidamente se espatifaria... Depois seus pedaços seriam disperços... Adeus concha... (atira-a no mar)


O garoto olha-a com dois olhos entristecidos... Ela continua a fitar o mar pensativa, e percebe que sua concha perdeu-se na imensidão azul. Não há como retornar ao passado, ou ainda, controlar os processos de sedimentação. O Garoto abaixa o olhar, e vê as inúmeros estilhaços de conchinhas no chão... Talvez, tenham sidos despedaçados por uma garota de cabelos esvoaçantes, ou tenham se quebrado com a fúria do mar... Talvez sido atiradas contra pedras, barcos... Outras tantas, devem estar depositadas no fundo do mar... Não se sabe, não se saberá...

Ele olha para o mar, agora bastante aliviado...

A garota ao lado mantém-se calada, e vê-o se afastar... O beijo salgado da maresia, rouba-lhe uma lágrima do olhar decidido, que aos poucos começa a ruir...

A concha faz falta em seu pescoço, e agora, não pode controlar o destino do sentimento... Depende de fatores que não conhece direito, até que o que sente fossilize, e seja apenas uma lembrança esquecida em sua mente vigorosa...

Então, passa a caminhar, e cantarolar uma música decorada, entoada tantas vezes...

A distância entre os dois aumenta, à medida que se vão por caminhos opostos...

Nenhum deles atreve-se a olhar para trás...

4 comentários:

♥Lilinha♥ disse...

Perfeitoooo, simplesmente o ke eu sinto... puxa estamos sofrendo do mesmo mal? kkkk
meuu depois vou pegar uns textos seus e por no meu blog ok? pode?
bjus

Levi Agreste disse...

Senti o mar nos meus pés.
E isso porque na minha cidade nao tem mar!
Gostei muito ;)
Beijo paulista

Débora A. disse...

Nine,se um dia vc escrever um livro com esses escritos,tenha certeza q eu terei um exemplar comigo...e autografado!!
mto lindo garota!
bjaummm

Luíze Tavares disse...

Conseguiu me emocionar com essas palavras.
Concordo plenamente com o comentário acima. Por favor não esquece de mim... vou querer um livro autografado!