segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sobre a gruta da Lapa doce / Solidão Silenciosa

Lá, o silêncio ecoava retumbante,
misturando-se à escuridão plena...
Abri os olhos,
e ainda era como se estivessem fechados,
pois não havia um limite do campo de visão...
Havia só a imensidão negra,
mergulhada naquele som aterrador
do silêncio...
Era como se eu voasse,
longe do limite espaço-tempo...
Pairava sobre o nada,
como no início de tudo...
Ali,
não havia mais corpo,
visão, audição, tato...
Era um só ser pensamento,
e apenas minha voz sussurrava à escuridão...
Mas não era bem uma voz,
era a mente,
entalhada naquelas paredes grossas a muitos metros abaixo da terra...
Se se prestasse bastante atenção podia-se ouvir os pensamentos dos outros
até os que ali entraram a muito tempo atrás...
E a caverna, dialogava comigo,
em sua milenar existência,
contra meus paradoxos infantis,
e orgulhos facilmente crucificáveis...
Ela era plena senhora de si,
eu era anjo teimoso,
encurralado em minhas pretensões de vôo...
Me ensinou sobre noções,
sobre sentimentos, sobre essências...
Mostrou-me que meu coração pode ser livre,
longe da poesia...
Que eu também posso ser plena...
Não tive porventura, medo do escuro
ou do silêncio mais puro que já ouvi na vida...
Tive medo de mim,então,
dos meus medos,
e da forma como poderia quebrar a plenitude,
com um simples grito...
Aí, sumiram-se os amores,
as dores, os medos bobos,
as inconsequências...
E, quando novamente a luz
do simples candeeiro à gás se acendeu,
pude ir à frente,
novamente limitada pelo corpo,
pelas sensações...
Todas as coisas ficaram para trás na solidão eterna...
E eu,
Retornei nova, e mais vazia,
No meu coração,
só a plenitude do silêncio e da escuridão...
-----X-----X-----X-----X-----
Meu coração,
essa gruta fortemente escavada pelas coisas da vida.
Não ouso criar ecos infames dentro de suas paredes,
teimo dar luz,
vida,
tento inundar sua solidão...
Mas isso não é válido,
pois no escuro,
a mente voa,
a mente desprende-se...
Lá no coração escuro,
tudo flui silenciosamente,
tudo apenas existe inundado de um vento fresco...
Minha gruta-coração, solidão silenciosa...

PS: Olá, meus queridos leitores persistentes... Gostaria de escrever-lhes tão profundamente, quanto senti lá dentro...Mas é algo tão pleno, tão intenso, que minhas poucas palavras, não conseguiram refletir... Sinto muito... (A gruta da lapa doce fica em lençóis-BA, e em algum momento da excursão, o guia desliga o candeeiro, e os visitantes podem sentir, a escuridão total, e o silêncio profundo...)

2 comentários:

Luíze Tavares disse...

Consegui me deportar a esse lugar e sentir essas sensações.
Certamente, ninguém saberá escrever um livro de botânica como você. Associar ciência e poesia seria maravilhoso. Duas coisas que amo profundamente!

Fã: #1

Beijão

Luíze Tavares disse...

É sempre confuso falar de sentimentos. Até porque cada um tem a sua forma de sentir. O que eu não concordo, na verdade abomino, é que algumas pessoas que ainda estão presas a um amor do passado não queiram aceitar que esse alguém pode estar sendo feliz com outra pessoa. Acho que quando chega a esse ponto é porque não existe mais amor próprio. Entende?!
Sei lá, isso é algo que tenho presenciado e por muitas vezes me pus no lugar desse alguém. Eu sempre respeitei muito as pessoas e não adimito que me desrespeitem. Espero que você esteja me entendendo. Isso é algo que vai tão profundamente na minha alma que não sei se consigo expressar.

Queria poder te contar tudo... mas a história é looooooonga!

Beijão