sábado, 11 de abril de 2009

Estaferme Zurrapa


Um cheiro morno invade a sala. São as rosas do jardim florescendo, alguém gritou de lá de dentro...
Mas eu não perguntei nada...
Seus pensamentos são tão altos, que a maioria das vezes chega incomodar...
não disse nada...
não saberia mesmo o que dizer, então fechei os olhos...
nas minhas mãos, a xicara de café, esfriava...
o tempo também...
algumas nuvens escuras vinham combinar o céu, com os altos predios cinza-concreto...
não sabia o que fazer depois do café,
então, me sentei e não fiz nada..esperei...
até cansar,
e tentei escrever alguns versos...
só tentei, e desisti..
também, quem manda tomar café...
Conversando sozinha, querida???
não mãe, esquece...
continuei calada, olhando a estante,
tantos livros puídos...
todos inesgotáveis na memória...
poderia ser um deles, e seria feliz!!!
mas não posso ser um livro...
me enchi de eternidades, e saí da sala, até a janela...
não havia mudado muita coisa não...
e pensei, que as vezes, a poesia que há na gente,
é como um grito que quer se libertar da garganta...
ele nem sempre diz muita coisa,
às vezes é bem feinho,
mas levam consigo, uma carga enorme de sentimentos...
nessas horas, as palavras são vazias, e insignificantes...
poderia gritar agora,
mas estava tão entretida com o vento refrescante...
sopravas as roseiras, bagunçava meu cabelo, enchia meus pulmões de energia...
poderia petrificar bem ali...
abri os braços para receber os carinhos da natureza...
me sentia viva,
e as idéias em mim faziam festa...
escreveria mil paginas, se as tivesse,
e inventaria tantos poemas quanto pudesse...
mas a inspiração é traiçoeira,
vem e vai a noite inteira,
e rende grandes sensações...
e dancei com ela na sala,
sua eloquência habitual, não me surpreendera,
já a conhecia por inteiro,
com sua comoção melosa, e gosto por blues...
e valsei até doer os pés,
e ri tão alto, que me assustei...
por fim, tirei os sapatos...
por que estava mesmo de sapatos dentro de casa...
cada coisa que acontece...
lembrei da caixa de sapatos, em cima do armário...
tão repleta de antigos versos, que chegou a abarrotar a cama..
aquele cheiro velho de mofo e poeira,
faziam cócegas na emoção que sentia,
desatando uma lágrima escondida sob a palpebra inferior...
li li, li, até que os olhos doessem...
aqueles papéis amarelados,
estavam repletos de emoções adormecidas...
elas nunca se vão, é verdade...
tornam-se mudas, nas telas emboloradas, das lembranças narradas ocasionalmente...
guardei todas de novo...
e vi a parede do quarto...
quantas vezes haviam sido pintadas...
mereciam uma cor nova..
diferente, recém descoberta...
uma nova tonalidade do arco-íris infinito que se pintava lá fora...
sim, havia chovido...
as esperanças rescendiam novamente a aurea cansada...
sentia-me infinita, de sentimentos,
e limitada pelo tempo...
queria liberdade, então...
não queria destinos, ou encontrões repentinos de eletrons, e forças minúsculas...
queria força, e desatino...
e corri pela casa, e me despi das certezas
desenhadas no corpo, pelas palavras estáticas, e razoáveis....
me enchi do riso gostoso e sem sentido,
emoldurado rusticamente,
nas sombrias paredes da dialética...
e comi completamente,
o prato fumegante da sutileza...
da garganta, o grito mais agudo, e preciso,
ecoou, deixando a garganta e o coração,
em busca do universo distante...
depois, em delírio poético,
reboquei os velhos muros,
e pintei todas as janelas...
No mesmo dia fui diagnosticada Estaferme Zurrapa...

5 comentários:

Débora A. disse...

wow nine!
fiquei embevecida com suas palavras!
enlevada,
encantada,
extasiada,
rsrs
q dom lindo vc tem!
bjaum e saudades....

Mamello disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mamello disse...

Caramba Nine, quanta descritibilidade! Maravilhoso!

(não sei porque, mas minha sensitividade diz que você não escreveu o que realmente queria dizer)


O legal da vida é que somos uma biblioteca completa e não a solidão de um livro apenas.

Mamello disse...

O que é Estaferme Zurrapa?

Mamello disse...

Então minha sensitividade não me traiu.
=)


BEijos e FEliz Páscoa!