quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Diálogo intercalado por um 'Espírito'* narrador

-Morreu!
-De quê?
Parece que a pergunta foi sincera. Na verdade, a mulher tomou um susto.
-Tinha tanta vida dentro dela. Lembro-me que ela exalava poesia. Ria de encantar.
-Estava amuada, quieta. Parece que a essência dela morria aos poucos.
-Foi desgosto?
-Sabe que não sei...
A resposta parecia sincera. Quem reparava no insignificante?
Na verdade, ninguém ligava muito para a angustia alheia.
-Bem, ouvi dizer que o coração dela gritava silenciosamente o tempo todo.
-Era doença de dor?
-Parece que desistiu da vida antes da doença.
Mas ninguém sabia, que a doença dela era a vida.
Que a vida dela era uma angústia sem fim.
Aos poucos, ela foi cedendo, e se deixando transceder para o mundo dos sonhos.
Calada, ela, parecia amortecia pelas dores das cicatrizes do coração enfraquecido.(putrefando)
Mas a mente, intacta e fortalecida, era antítese abstrata do corpo que parecia definhar.
-Muito triste a morte dela.
Triste mesmo, era ela!

* Não acredito em espírito, pura e simplesmente, como uma entidade imaterial, dotada de capacidade de reconhecer-se (e ainda atravessar paredes) . Não acredito em espíritos. Acredito na matéria: na mente como uma expressão da matéria.
Mas, se você não acredita, porque usou-o no texto? Ahaa!!!
Usei-o, porque não há mente que subsista á morte. No caso, algo do interior consciente da garota, teria de explicar as partes implícitas do diálogo ( e eu não estou afirmando que seria alma ou espírito). O que era realmente verdade, e era desconhecido dos interlocutores. Vamos supor que este 'espírito' seja uma verdade subsistente, que exista, fundamentda em si mesma, e que possa falar nas entrelinhas, os aspectos desconhecidos do diálogo, através da voz de um narrador que não é material, nem imaterial, mas inexistente em quaisquer planos, só na consciencia que se foi.

4 comentários:

Marcelo Mayer disse...

tiro no pé

Quel Moraes disse...

"Ninguém sabia que a doença dela era a vida". E é.
Escrevi sobre iso, mas INfelizmente não tenho esta tua coragem.

Por que esta antítese nos mata aos poucos?

Será?

Quando crescer... ah, vc já sabe o fim da frase! xD

;*

Luan Fernando disse...

Há morte pior do que quando nos prendemos em angústias?
Beijos
Juliane S. Rocha

M. D. Amado disse...

Não levanto aqui a questão se acredito ou não em espíritos. Mas eu acredito em excelentes poetisas e escritoras. Parabéns mais uma vez!