sábado, 5 de dezembro de 2009

A um anônimo


Eu estava passando, e vi a multidão aglomerada: Tinha alguém caído no chão.

Um arrepio percorreu a espinha, e eu, quase que instantaneamente, caminhei para o aglomerado de pessoas. A respiração estava pesada, o coração batia rápido, e a mente implorava que não fosse ninguém conhecido.

Senti um alívio, quando vi o rosto anônimo desacordado. Um rapaz de mais ou menos 22 anos, alto, bem vestido, e bonito. Meio loiro, sem barba, com uma blusa azul céu. Na testa dele, havia um enorme curativo.

Haviam muitas pessoas conjecturando, e teve até os que disseram que ele havia sido atropelado por um ônibus.

É, agora, lamento muito. Eu não sei o que aconteceu com o rapaz, se a ambulância chegou, pois não demorei nem 10 segundos na "conferida". A questão é que senti-me aliviada ao ver que a pessoa lá estendida não era ninguém que eu amasse. Isso é cruel, um egoísmo sem tamanho. E eu até paro para pensar no que eu poderia ter feito. Nada. Apenas ter sentido pena do coitado.

Aquele tanto de pessoas lá, em volta dele, como se fossem urubus esperando para se deliciar com a morte, sairiam dali dizendo: "morreu um rapaz hoje lá no centro...".Eu, passei, olhei e ignorei.

Agora dói. Não deveria ser assim, nós não deveríamos só nos importar com parentes e amigos. Somos um todo social, em que os benefícios e malefícios são compartilhados.

O rapaz ficou lá, desacordado. Ele viveu com certeza. Não tinha sangue no chão, e definitivamente, não parecia ter sido atropelado. Mas agora ele ronda minha mente, me acusando de Omissão.

E digo-lhe: "eu não poderia ter feito nada."

E ele chama-me de Egoísta.


PS: Dizem que o cuidado parental é uma característica que propiciou a evolução da nossa espécie. Eu acredito também...Mas acabou que essa caracteristica tornou-se tão acentuada, que estamos perdendo a compaixão. Quantos aqui colocariam o cara no carro, e o levariam para o hospital, sem conhecê-lo, sem saber se ele merecia, e até, pagariam os exames? Não muitos... A gente nunca se arrisca, não é? Preferimos alugar o pensmento, e sair pela tangente...

Triste realidade à qual, sou inclusa...

4 comentários:

Marcelo Mayer disse...

nossa ignorancia nos faz culpados

Priscila Rôde disse...

Culpa que dói..

Alexandre da Fonseca disse...

BOA TARDE!! LINDO BLOG, SUCESSO E MUITA PAZ..BJS

Johnny disse...

O ignorar que nos faz culpados, e a culpa que dói.
Mas, por outro lado, o "sentir culpa" do que fazemos nos conforta, o que é tanto pior.
Talvez tenhamos aprendido que sentir culpa é o bastante, e lendo este, vejo que não o é.

P.S.: Faz pensar. Faz crescer. É genial.